sexta-feira, outubro 31, 2008

Links dos Percursos Publicados

Caminhar e Conhecer
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Portela do Homem - Pitões das Júnias
http://gpmcaminhadas.blogspot.com/2007/05/marcha-de-travessia.html


Caminhos do Romântico
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Rota Senhora do Crasto
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Percurso em Bracara Augusta
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Retirada do Marechal Soult I
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Retirada do Marechal Soult II
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Retirada do Marechal Soult III
http://gpmcaminhadas.blogspot.com/2007/07/retirada-do-marechal-soult-iii.html


Retirada do Marechal Soult IV
http://gpmcaminhadas.blogspot.com/2008/10/retirada-do-marechal-soult-iv.html

Via Romana XVIII

Rota dos 999 Arcos

Retirada do Marechal Soult IV


Soult entre Paradela e Montalegre

"No dia 17 de Maio 1809 o exército de Soult marcha de novo. O Marechal à frente de uma divisão de Dragões subiu ao alto da serra à sua direita para se assegurar que o General Beresford, ao comando do exército português, não se dirigia a Montalegre…"

In:Pierre Le Noble – Memórias das Operações Militares dos Franceses na Galiza e Portugal


“Na verdade o exército de Soult, partindo de Paradela e seguindo pela velha estrada para norte,
foi saqueando e destruindo as pequenas povoações que encontrou a caminho da fronteira…”

“A fim de melhor se esclarecer sobre o seu flanco direito e prevenir alguma acção de Beresford
a partir de Chaves e Boticas.
Ele próprio marchou com uma divisão de Dragões pela linha de alturas do Gerês divisória das águas do Cávado e do Rabagão…”

In: Carlos de Azeredo – As populações a norte do Douro e os Franceses em 1808 e 1809


MARCHA DE MONTANHA
A Retirada de Soult com os Dragões (Percurso Histórico)
Percurso entre Paradela do Rio e Montalegre – 22 km
17 de Maio de 2008


Voltando ao tema da guerra peninsular, o Grupo Portuense de Montanhismo, fez-nos retroceder quase dois séculos, encaminhando-nos para os dias difíceis da segunda invasão francesa. Recordamos que este grupo, levou a cabo no ano de 2006, o percurso entre Paradela do Rio e Montalegre ( Retirada de Soult III), pelo mesmo itinerário que as tropas de Soult utilizaram, quando bateram em retirada no mês de Maio de 1809.
Convém no entanto referir, que o marechal não acompanhou as tropas de linha, mas seguiu pela cumeada da serra que separa os vales do Cavado e Rabagão, na companhia de uma divisão de dragões. Este pormenor, explica o facto de se ter organizado esta marcha, reconstituindo o percurso seguido. Os dragões, constituíam um corpo de tropa de elite, e daí a opção tomada pelo marechal, prevenindo qualquer eventualidade. Sem errar demasiado, podemos compará-los aos comandos dos dias de hoje.
Esta manobra do experiente cabo de guerra, tinha como objectivo evitar qualquer investida vinda do seu flanco direito, uma vez que no seu flanco esquerdo seguia o resto do exército, como atrás referimos. Permanecerá talvez para sempre, a dúvida sobre a forma como se orientaram para chegar tão rapidamente ao seu objectivo, em condições climatéricas difíceis, como foi o mês de Maio daquele ano. É mais do que provável, de que devem ter beneficiado da companhia de alguém que conhecia muito bem o terreno, guia promovido à força ou a troca de dinheiro.
Por fim, recordamos que Soult e os dragões abandonaram Paradela na manhã de 17 de Maio e chegaram a Montalegre na tarde do mesmo dia. As forças perseguidoras não chegaram a tempo de intersectar o que restava do esfrangalhado exército napoleónico, que conseguiram pernoitar em Ginzo del Limia, no mesmo dia que as tropas do general Silveira, chegavam às portas de Montalegre.
Estabelecido que está o enquadramento histórico, com os lapsos que certamente perdoarão a quem não está habituado ao estudo dos factos históricos, passemos então ao nosso percurso.
Recrutaram-se perto de duas dezenas de veteranos, calejados nas batalhas do Gerês, Peneda, Cabreira e Amarela, experientes neste tipo de terreno. Fazem-se as verificações habituais e partimos de Paradela, junto à casa onde o marechal pernoitou.
A previsão de que a chuva apareceria, era testemunhada pelas grossas e escuras nuvens, que durante grande parte da marcha, se tornaram nossas aliadas, poupando-nos o desgaste de um dia de calor.
Até à “Cruz da Pala do Rei” o caminho, com bom piso, corre entre prados de lima e bosques de carvalho negral. No Oral temos cerca de meia légua bem medida, sempre a subir. A partir daqui, os prados de lima e os bosques de carvalho dão lugar à urze e mato rasteiro, que pouco medram devido à rudeza do clima e à escassez de alimento.
Estamos acima dos 1100 metros de altitude. Á nossa volta só montanhas e barragens! Os caminhos começam a escassear e a fugir à cumeada, pelo que, entre a Formiga e o Pombeiro, evitamos as zonas húmidas onde a progressão é difícil, recorrendo às travessias, com o auxílio do GPS. O novo objectivo é a “Pedra da Missa”, que se atinge após rodearmos alguns caminhos impraticáveis tomados pela vegetação. Fizemos então uma pausa para observarmos do alto da montanha, as aldeias morenas do Barroso, onde as casas se aconchegam para se defenderem da rudeza do clima. Nos vales, regressam os carvalhais e os prados de feno e centeio, contrastando com a aridez da serra. Almoçamos e aproveitamos para conviver um pouco, com os sentidos entretidos no espelho de água da barragem do Alto Rabagão.
Até ao Alto de Ribas é mais quilómetro e meio de subida que nunca mais acaba, onde um pequeno marco confirma os 1178 metros de altitude. Entre Ribas e o Facho é um sobe e desce desgastante, amenizado pela paisagem que se vislumbra. Estava escrito de que a marcha não acabaria sem a bênção de S. Pedro, como veio a acontecer. Depois de passarmos o Alto do Facho aos 1250 metros a temida chuva, fez a sua aparição, vinda do lado do Larouco. Com os impermeáveis vestidos, caminhamos debaixo de chuva até ao Fojo do Lobo. Daqui até Montalegre o caminho é plano, mas ainda fez estragos nas tropas, pelo que foi bem recebida a ordem de tocar a reunir para o lanche.
Não temos dúvidas de que esta marcha, ficará certamente gravada no livro de recordações de todos os que nela participaram. Além de um saudável clima e espírito de entreajuda, o que aliás, é habitual nos percursos do GPM, pudemos desfrutar das mais variadas e inesquecíveis visões da montanha, conjugadas com a aventura de calcorrear este percurso histórico, interdito aos que privilegiaram a comodidade do sofá.


F. Fontinha

Cerco do Porto - Parte II

CERCO DO PORTO – PARTE II
A concentração teve lugar junto às piscinas do Fluvial, onde a pouco e pouco foram chegando os aderentes a esta realização do GPM.
Após as formalidades do secretariado, deslocamo-nos para as proximidades do Mosteiro de S. Francisco onde foi introduzido o contexto histórico para o percurso que iríamos desfrutar.
Trata-se da segunda parte do projecto iniciado em 2007, seguindo desta vez a linha de defesa Liberal Sul, situada na margem direita do rio Douro. Esta linha do lado Sul da cidade, tinha a vantagem de ter o rio Douro como defesa natural bem como a orografia do terreno, escarpado em quase toda a margem direita.
Deslocamo-nos então pela marginal, admirando a sequência das belas pontes sobre o Douro. O percurso propriamente dito, iniciou-se na Bateria da China, junto à Quinta com o mesmo nome. Esta era a primeira de 22 Baterias que, juntamente com um quartel da marinha, constituíam a linha de defesa liberal Sul.
Seguimos ao longo da linha ferroviária, agora desactivada, que ligava Campanhã à Alfândega, um belo trecho do percurso que propicia a contemplação do rio, e panorâmicas insólitas das pontes de S. João (junto à qual se situava a Bateria do Seminário), a de D. Maria, a do Infante (após a passagem através dum túnel ferroviário), e, mais adiante, a de D. Luís.
Subimos depois uma acentuada escadaria, que nos levou ao Passeio das Fontaínhas, onde, junto a uma amurada, nos detivemos a contemplar o Convento da Serra do Pilar. Constituiu, naqueles tempos conturbados da história da Invicta, um importante bastião de defesa Liberal, de grande valor estratégico, sob o comando do Brigadeiro Silva Torres.
Atravessamos depois as Muralhas Fernandinas, o que resta da cintura medieval de muralhas do Porto poupada à demolição. Aqui se situou a Bateria do Postigo do Sol.
Junto à Sé Catedral, descemos as estreitas e típicas ruelas da freguesia da Sé e S. Nicolau.
Após o almoço subimos as Escadas da Vitória (antigas escadas da Esnoga) e no largo onde se situaram as peças de artilharia da Bateria da Vitória, o grupo perfilou-se para a inevitável fotografia.
Atravessando o jardim do Passeio das Virtudes (Bateria das Virtudes e Bateria da Quinta das Virtudes), deitamos um breve olhar à emblemática Torre dos Clérigos, e dirigimo-nos à rua de Cedofeita percorrendo-a na totalidade. Esta passagem pela rua de Cedofeita constituiu um desvio do percurso ao longo da linha de defesa Liberal Sul, apenas com o objectivo de observar aquele que foi o edifício onde se localizou o 2º Quartel General de D. Pedro IV durante grande parte do Cerco. Trata-se do nº 395 , um prédio que, apesar da sua importância histórica, não tem qualquer placa que o relacione com os acontecimentos daquela época.
Retomando a linha de defesa Liberal, detivemo-nos frente ao Palácio dos Carrancas, um edifício de estilo neoclássico, construído em 1795 e quase sempre ocupado por gente ilustre, como o Marechal Soult (1809) e D. Pedro IV, no princípio do cerco (antes de se mudar para Cedofeita). Aqui está instalado o Museu Nacional de Soares dos Reis.
Entramos nos jardins do Palácio de Cristal, onde esteve instalada a Bateria da Torre da Marca, perto da capela do rei Carlos Alberto e prosseguimos depois pelas freguesias de Massarelos (baterias do Cónego Teixeira, do Cemitério, do Bicalho), e de Lordelo do Ouro (bateria da Arrábida ).
O percurso teve o seu final no local da bateria que se situava no largo da capela de Santa Catarina, de onde se contemplou a Foz do Douro já sob o lusco-fusco do anoitecer.
Texto: Manuel Augusto

sábado, abril 19, 2008

Ecopista de V.N.de Famalicão

Percurso na Ecopista de V.N.de Famalicão
Fiães - V.N.de Famalicão
23 de Fevereiro 2008


Em 30 de Dezembro de 1873 foi constituída a “Companhia do Caminho de Ferro do Porto à Póvoa” que recebe o trespasse da concessão feita por decreto de 19 de Junho de 1873 a J. C. Temple Elliot e ao barão de Kesseler, de um caminho de ferro de via reduzida, entre o Porto e a Póvoa do Varzim.
A Companhia construiu e explorou a Linha do Porto à Póvoa (Senhora da Hora e Póvoa do Varzim), Linha de Famalicão (Póvoa do Varzim e Famalicão).
“Em Gondifelos, a paisagem movimenta-se. Estamos num dos limites do característico Minho, com os seus peculiares outeiros e valeiros arborizados, as suas típicas quintas, as suas recatadas bouças, poças, fios de água, fundegos e montinhos.
Cruza-se a estrada de Famalicão e, logo a seguir, transpõe o modesto curso de água, o rio Este.”


“Um pouco adiante, Cavalões, aldeia rural e airosa fronteira a outra não menos abastada e aprazível: a freg. De Minhotães, sobre o qual se ergue o monte luxuriante de Grimancelos, coroado de velhos penedos e frondosas bouças.”



“Após uma subida excepcionalmente prolongada e encurvada, alcança-se a paragem de Outiz. Daqui se contempla um amplo quadro. Para as bandas do Norte avista-se sucessão de montes arborizados, de talhe harmonioso.”


“Um desses cimos é o Monte de Viatodos, reconhecido núcleo de vida pré-histórica; outro, mais além, é o Monte Airó, sobranceiro ao Rio Cávado.”



“Prosseguindo, em acentuada rampa e consecutivos rodeios atinge-se o alto de Barradas, no prolongamento Norte da Terra Negra. Daí se avistam as terras fundas e verdejantes de Louro e Mouquim.”


“Alcançando o ponto mais elevado de todo o percurso, a via férrea descreve um largo rodeio em torno do monte de Brufe. Descendo em declive acentuado pelo pendor do Norte.”

“Cruza-se a estrada de Barcelos e entra-se quase de repente na ampla concha, rústica e populosa de Famalicão, cujo casario, se desdobra, em rápido desfile, tendo como fundo o azulado cerro do Monte Córdova e mais para cá os outeiros indecisos de Ruivães, de Landim e de Vermoim,tão
impregnados das efabulações do trabalhador nocturno e diurno de S.Miguel de Seide”


Texto: ‘Guia de Portugal – Entre Douro e Minho I - F.C.Gulbenkian
Fotos: Jorge Ribeiro

segunda-feira, julho 30, 2007

Percurso do Exército Liberal

Percurso do Exército Liberal



Praia da Memória – Pedras Rubras - Porto

No dia 8 de Julho 2007, teve lugar mais uma actividade do GPM, desta feita para celebrar o 175º aniversário do desembarque do ‘exército libertador’ de D. Pedro IV. Uma actividade de cariz histórico, recriando um dos episódios mais importantes da cidade do Porto e que alteraria radicalmente o cenário político de todo o país.




O percurso teve como ponto de partida a praia da memória, mais precisamente o obelisco comemorativo do famoso desembarque, rumando de seguida em direcção às matas de onde o desembarque terá sido vigiado por tropas leais a D. Miguel.


Continuamos em direcção ao Largo de Pedras Rubras, onde terão acampado as tropas liberais, tendo aí lugar uma breve paragem com o intuito de relembrar a noite que os soldados aí passaram, tendo sido também relatada a famosa lenda dos três F’s. (@)


(@) http://paginas.fe.up.pt/porto-ol/is/lavraliberal.html



Continuámos o nosso percurso, tendo passado na casa do Lavrador Maiato Manoel José D’Andrade, onde terá pernoitado D. Pedro IV, e tendo dado nessa mesma residência o primeiro beija-mão do monarca.



Durante parte do nosso percurso, seguimos pela Via Veteris (Estrada Velha), estrada provavelmente de origem romana. Iniciava-se junto ao Rio Douro, na zona da Arrábida e, vindo pelo Couto entre Lordelo e Cedofeita, passava pelo Cruzeiro de Santiago de Custóias, atravessava o rio Leça neste local e daí dirigia-se por Pedras Rubras, Aveleda, Modivas e Vairão para o estuário do rio Ave.





Em Custóias, e ainda enquanto percorríamos a Via Veteris, atravessamos a ponte de D. Goimil, ponte de cavalete com um arco ogival, construída em alvenaria de granito irregular, apresentando uma tipologia construtiva característica da Idade Média (sécs. XIII – XIV).





Mais alguns quilómetros, e fomos encontrar no Largo de Custóias uma reconstituição de uma feira medieval, alusiva ao período em causa, onde, entre outros motivos de interesse, foi possível compreender melhor as armas e as tácticas de combate, utilizadas na guerra civil portuguesa.



Chegados ao Carvalhido, passamos na Praça do Exército Libertador (mais uma alusão ao episódio histórico), tendo o grupo depois seguido pela Rua 9 de Julho (data em que o exército de D. Pedro IV entrou na cidade do Porto).



Na rua de Cedofeita pudemos ver o edifício onde terão sido tomadas decisões que com certeza influenciaram o futuro do país, ou seja, o local onde funcionou o Estado-Maior da força liderada por D. Pedro.


Finalmente na Praça da Liberdade, na época chamada Praça Nova, os bravos do século XXI deram por terminada a reconstituição do percurso de cerca de 20 Kms, junto à estátua equestre de D. Pedro IV.


Texto: Antoni Pereira e Carla Leite
Fotos: Jorge Ribeiro

sexta-feira, julho 20, 2007

Retirada do Marechal Soult III

PERCURSO HISTÓRICO

Retirada do Marechal Soult . Parte III

Entre Paradela e Cambeses do Rio.



Seguindo na esteira do exército do marechal Soult, o Grupo Portuense de Montanhismo – GPM, levou-nos a conhecer a magia agreste das terras morenas do Barroso.
Quase dois séculos passados, o mesmo caminho, é agora percorrido por um exército de caminheiros à procura da memória daqueles dias de Maio de 1809, carregando entusiasmo e em paz com a natureza.



Sabemos que o ano de 1809 foi particularmente chuvoso, dificultando a marcha dos fugitivos e das tropas do general Silveira que seguiam na sua perseguição.
Recorde-se que, tendo este, cortado a retirada pela estrada de Chaves, obrigou Soult a seguir o difícil e antigo caminho para Montalegre, por apertadas veredas.
Confessamos que estávamos ansiosos por conhecer o rumo que o marechal teria seguido, continuando pela antiga estrada para Montalegre ou optando pelo caminho velho na direcção de Pitões. As dúvidas ficaram desfeitas, a partir de Paradela do Rio, uma vez que o comandante das nossas hostes tomou a direcção da raia seca do Larouco.




Seguindo a primeira das opções, fomos à procura das aldeias barrosãs, com o típico casario aconchegado no fundo dos vales, pela solidariedade que resulta do seu comunitarismo, e abrigado do impiedoso clima.
O que se terá passado na madrugada de 17 de Maio ninguém o sabe. Soult abandona a Paradela, e marcha com uma divisão de Dragões pela linha da cumeada que separa o Cávado do Rabagão, seguindo o resto do exército pela velha estrada na direcção de Montalegre. Por onde passaram foram queimando e saqueando o pouco que ficou, num terreno parco de recursos.



As povoações fugiram para a serra, levando o que puderam, pondo o gado a salvo, destruindo pontes, e posteriormente, perseguindo e atacando os mais atrasados, não lhes poupando a vida, tal era o ódio que tinham ao invasor.



Tomando o mesmo rumo, utilizamos o itinerário seguido pelo exército em fuga, fazendo uma paragem em Fiães do Rio, junto à casa onde nasceu Bento António Gonçalves. Com o futuro traçado para tratar dos lameiros e do gado, abandonou o torrão natal, aos 13 anos por morte de sua mãe. Partiu para Lisboa, tendo sido mais tarde secretário geral do PCP, e teve encontro com a morte no Tarrafal, com 40 anos de idade.


As mesmas aldeias, em tempo de paz, estão hoje desertas, onde apenas resistem os idosos, sem forças para poderem partir à procura de melhor futuro. Estão hoje tão desertas e abandonadas como dois séculos atrás, quando os seus habitantes fugiram para a serra, escapando à barbárie da soldadesca de Soult.



Que país é este, que obriga os seus filhos a procurar bem longe o pão do dia a dia? Quando chegamos a S. Pedro os nossos hábitos citadinos levaram-nos à procura da indispensável bica. Foi ali, num pequenino mas acolhedor café que a companheira Olinda nos leu de forma exemplar, um texto de Miguel Torga, patrono dos montanhistas que amam a natureza no seu estado puro.



Com as baterias carregadas e respirando o mais puro ar do planalto barrosão, abandonamos por pouco tempo o histórico caminho, devido ao espelho de água da barragem do Alto Cávado, fazendo a travessia pela ponte dos galegos.




Após algumas tentativas, os satélites no céu e o gps na terra, conduziram-nos à reconstituição do traçado que em certos locais desapareceu completamente e com algumas hesitações é certo, até Cambezes do Rio, através da planáltica lombada deste território barrosão, com a serra do Larouco a testemunhar a nossa caminhada.



Por este mesmo caminho arrastou-se o esfarrapado exército do marechal, rendido à capacidade de sofrimento e argúcia da gente simples, humilde e corajosa do norte do país, que se juntou ao general Silveira.


Texto: Fernando Fontinha

Fotos: Jorge Ribeiro

quinta-feira, maio 24, 2007

Caminho de Jacinto

Caminho de Jacinto

Percurso realizado em 16 de Junho de 2007

“ (…) No meu Príncipe já evidentemente nascera uma curiosidade pela sua rude casa ancestral. Mirava o relógio, impaciente. Ainda trinta minutos! Depois, sorvendo o ar e a luz, murmurava, no primeiro encanto de iniciado:
- Que doçura, que paz…”


Foi na agradável estação de Tormes, sobranceira ao rio Douro, que nos reunimos para o início do percurso.


Encenando um breve trecho da obra de Eça de Queirós A Cidade e as Serras, que referia a chegada do Jacinto e do Zé Fernandes àquela estação, o grupo criava assim o contexto para o percurso que nos levaria à Quinta da Vila Nova.

Sob um céu carregado de nuvens cinzentas, iniciámos a subida da serra pintada dos mais variados tons de verde. “Com que brilho e inspiração copiosa a compusera o Divino Artista que faz as serras, e que tanto as cuidou, e tão ricamente as dotou, neste seu Portugal bem - amado! A grandeza igualava a graça.”


O chilrear de pássaros por vezes misturado com o cantar dum galo, e o ruído de regatos de límpida frescura acompanhava-nos pelo frondoso caminho que, em alguns trechos, exigia um fôlego extra.



Impôs-se uma breve paragem junto ao Solar do Lodeiro onde se evocou o drama de José Augusto, homem rico e culto, e de Fanny Owen, uma mulher de origem inglesa.


Foi com base nos factos deste drama que Agustina Bessa - Luís escreveu o romance Fanny Owen, destinado a servir de guião ao filme “Francisca” de Manoel de Oliveira.


Prosseguimos a subida, por vezes íngreme, em direcção à Quinta da Vila Nova, detendo-nos por vezes para a leitura, na voz da companheira Laura Pires, de mais um trecho da obra que servia de guião ao nosso percurso.


E como as frases escritas se adaptavam ao tempo presente! ...“Muito tempo um melro nos seguiu, de azinheiro a olmo, assobiando os nossos louvores. Obrigado irmão melro! Ramos de macieira, obrigado! (…) serra tão acolhedora, serra de fartura e de paz, serra bendita entre as serras!”


Chegados à Quinta, seguiu-se uma visita guiada à casa que foi herdada pela mulher de Eça de Queirós, Emília de Castro Pamplona, aquando da morte da mãe. Percorremos as várias divisões, admirando o vasto espólio pessoal deixado pelo escritor.


Na cozinha, a companheira Laura relatou-nos mais uma passagem do livro, desafiando os presentes a um cerrar de olhos para melhor sentirem a descrição do autor … “Ao fundo a cozinha, imensa, era uma massa de formas negras, madeira negra, pedra negra, densas negruras de felugem secular.”



No caminho de regresso à estação de Tormes, era obrigatória a visita ao cemitério de Santa Cruz onde estão depositados os restos mortais do grande escritor.


Debaixo duma chuva intensa, detivemo-nos por momentos junto à campa em cuja laje se lê “Aqui descansa entre os seus José Maria Eça de Queiros”.

Seguimos depois para o restaurante onde iríamos prosseguir o enredo Queirosiano. Num ambiente alegre e descontraído, saudou-se cada componente da ementa com a correspondente descrição do autor no romance que serviu de guião a mais um acontecimento em boa hora organizado pelo Grupo Portuense de Montanhismo.
“Que beleza!”

Texto: Manuel Augusto
Fotos: Jorge Ribeiro



ESTA FOI A NOSSA EMENTA QUEIROSIANA

Baseada na obra: “A Cidade e as Serras”


Presuntos, Salpicão, Queijos, Geleia e Ameixas secas

“Se eu porém aos meus olhos juntar os dois vidros simples de um binóculo de corridas, percebo, por trás da vidraça, presuntos, queijos, boiões de geleia e caixas de ameixas secas”


Caldo de Galinha com Fígado e Moela

“ Uma formidável moça, de enormes peitos que lhe tremiam dentro das ramagens do lenço
cruzado, ainda suada e esbraseada do calor da lareira, entrou esmagando o soalho, com
uma terrina a fumegar. “Desconfiado (Jacinto), provou o caldo que era de galinha e rescendia. Provou — e levantou para mim, seu camarada de miséria, uns olhos que brilhavam, surpreendidos [...]. E sorriu, com espanto: - Está bom!" Estava precioso: tinha fígado e tinha moela: o seu perfume enternecia: três vezes, fervorosamente, ataquei aquele caldo.“

Arroz de Favas com Frango Alourado

“E já espreitava à porta, esperando a portadora dos pitéus, a rija moça de peitos trementes que enfim surgiu, mais esbraseada, abalando o soalho – e pousou sobre a mesa uma travessa a transbordar de arroz com favas. (…) Jacinto, em Paris, sempre abominara favas! ... Tentou todavia uma garfada tímida — e de novo aqueles seus olhos, que pessimismo enevoara, luziram, procurando os meus. Outra larga garfada, concentrada, com uma lentidão de frade que se regala. Depois um brado: - óptimo!... Ah, destas favas, sim! Oh que fava! Que delícia!”

“Diante do louro frango assado no espeto e da salada que ele apetecera na horta, agora temperada com um azeite de serra digno dos lábios de Platão, terminou por bradar: - é divino!.”


Creme Queimado

“À mesa onde os pudins, as travessas de doce [...]. - Como gostar! Mas é que delira! ... Pudera! Tanto tempo em Paris, privado dos pitéus lusitanos...”

Café

“…e reclamava impacientemente o café, um café de Moca, mandado cada mês por um feitor de Dedjah, fervido à turca, muito espesso que ele remexia com um pau de canela”


Vinho de Tormes

“…caindo de alto, da bojuda infusa verde – um vinho fresco, esperto, seivoso, e entrando mais na alma, que muito poema ou livro santo.
Mirando, à vela de sebo, o copo grosso que ele orlava de leve espuma rósea, o meu Príncipe, com um resplendor de otimismo na face, citou Virgílio: - Quo te carmina dicam, Rethica? Quem dignamente te cantará, vinho amável desta serras?”


A Cidade e as Serras e o Caminho de Jacinto

Estação de Tormes

" e ambos em pé, às janelas,esperamos com alvoroço a pequenina estação de Tormes, termo ditoso das nossas provações."

Caminho de Jacinto

"Para os vales, poderosamente cavados,desciam bandos de arvoredos,tão copados e redondos,de um verde tão moço,que eram como um musgo macio onde apetecia rolar."

Caminho de Jacinto

" Através dos muros seculares,que sustêm as terras liados pelas heras,rompiam grossas raízes coleantes a que mais hera se enroscava.Em todo o torrão, de cada fenda, brotavam flores silvestres."

Ig. de Santa Cruz

"Nos cerros remotos, por cima da negrura pensativa dos pinheirais, braquejavam ermidas. O ar fino e puro entrava na alma, e na alma espalhava alegria e força."

Quinta de Tormes

"Frescos ramos roçavam os nossos ombros com familiaridade e carinho.Por trás das sebes, carregadas de amoras,as macieiras estendidas ofereciam as suas maçãs verdes,porque as não tinham maduras."

Casa de Tormes

" Assim, vagarosamente e maravilhados, chegámos àquela avenida de faias, que sempre me encantara pela sua fidalga gravidade."

Entrada e Capela da Casa de Tormes

"E quando Jacinto, na sua suada égua, e eu atrás, no burro de Sancho, transpusemos o limiar solarengo.."

Um site a visitar: http://www.literatura.pro.br/acidadeeasserras.htm