quinta-feira, maio 24, 2007

Caminhos do Vale do Neiva


Caminhos de Santiago no Vale do Neiva

18 de Novembro de 2006


Realizou-se no passado Sábado, mais um percurso pedestre organizado pelo Grupo Portuense de Montanhismo, desta vez tendo como cenário o imponente vale do rio Neiva. A iniciativa estava enquadrada no encerramento das actividades de 2006 e, para além do percurso, estava previsto um jantar e a apresentação de slides e de um DVD resumindo o que durante o ano o Grupo levou a cabo. O ponto de encontro foi no Lugar de S. Roque, em Poiares – Ponte de Lima, um lugar onde convergem três concelhos: Viana, Barcelos e Ponte de Lima.



Desafiando as previsões de chuva, perto de vinte amantes da Natureza compareceram à chamada, no desejo de passar um dia diferente, percorrendo alguns trajectos que fazem parte dos três Caminhos de Santiago que cruzam o vale. Não faltou a presença de um representante Galego, o simpático Jorge Suarez, caminheiro e peregrino nos seus tempos livres.
Cerca das 10 horas iniciámos o percurso munidos da inevitável boa disposição. Pouco tempo decorreu até que a chuva impusesse a sua presença, sem no entanto abrandar a vontade que nos animava de continuar.




A primeira paragem foi na Igreja Matriz de Balugães, românica do sec. XII, como se lê numa inscrição na torre sineira. A chuva intensificou-se de tal modo que por momentos se pensou em dar por concluída a actividade. Abrigados na galilé construída na fachada principal (já no sec.XVII), aproveitamos para um ligeiro almoço a que não faltou o café e um bombom distribuído por uma companheira mais prevenida. Entretanto S. Pedro acabou por reconsiderar, permitindo-nos a continuação do percurso, deixando até que o Sol nos presenteasse por alguns momentos com o seu brilho e calor.



Chegados à Capela da Aparecida, apreciámos o panorama que dali se desfruta do extenso vale. Aqui teve lugar em 1702 a primeira aparição mariana de Portugal, aceite e aprovada pela Igreja Católica. Debaixo da capela construída sobre o penedo onde ocorreu o milagre que devolveu a fala ao pastor João Alves, o Mudo, existe um corredor muito baixo e estreito cavado no penedo e onde, segundo a crença, só passa quem estiver em graça. Os caminheiros, desafiados a passar pelo teste, demonstraram estar todos em graça, uma vez que todos conseguiram passar.


Em frente à Capela foi construído um grandioso templo (1707-1720) por iniciativa do arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles e graças ao produto das esmolas dos devotos e de um avultado legado do abade Francisco Teixeira Tinoco. Neste local foi tirada a fotografia de grupo.
O troço que se seguiu permitiu-nos concretizar a ideia de que, afinal, a sorte protege mesmo os audazes, pois a recompensa pelo facto de não termos receado as ameaças de mau tempo e termos aderido a esta iniciativa do GPM, estava ali, na encosta do Monte da Carmona: a contemplação da majestosa paisagem que o imenso vale do Neiva nos oferece! Nem as nuvens carregadas de cinzento ameaçador retiravam a beleza ao imponente vale.



Descendo a encosta, chegamos ao Mosteiro do Carvoeiro, templo beneditino fundado em data anterior à nacionalidade, mas reconstruído e ampliado no século XVIII. D. Luisa Monteiro, notável de Carvoeiro cedeu à freguesia este mosteiro.



Seguimos, então, através de um vinhedo, onde teve lugar a parte radical da caminhada, e que foi a travessia de um riacho. O nosso guia teve que arregaçar as mangas para ajudar o pessoal a dar o salto para a outra margem.




Encontrámo-nos então, conforme fora préviamente combinado, com o Dr. Tarcísio Maciel, arqueólogo e autêntico “Indiana Jones”, que nos presenteou com uma preciosa aula ao ar livre acerca dos vários povoados proto-históricos existentes nos montes circundantes.




Simpático e sabedor das coisas da terra, acompanhou-nos até à chamada Ponte Real e de seguida até à Ponte do Morgado, sobre um Neiva bastante caudaloso devido às intensas chuvadas.


Prosseguindo depois de passar pela Ponte Nova e através de um pinhal, a nossa persistência foi, uma vez mais posta à prova, já que um potente aguaceiro caiu sobre nós, ao mesmo tempo que a água depositada nos caminhos nos obrigava a autênticos exercícios de corta-mato.

Chegamos então à Ponte das Tábuas, em Aguiar, onde se aproveitou para mais uma fotografia de grupo, tendo como fundo os seus arcos ancestrais. Autêntica obra de engenharia, a ponte das Tábuas é um dos monumentos mais importantes do Caminho Português.



Erigida no sec. XVI com grandes lajes de granito, substituiu uma outra, de tábuas, já referida no sec. XII. O italiano Canfalonieri, em peregrinação a S. Tiago de Compostela em 1594, refere-se a esta ponte como sendo de pedra. Na margem direita, do lado jusante, observa-se em duas pedras do pavimento, uma cruz gravada.

Chegámos finalmente ao lugar de S.Roque, local de início e fim do percurso e como que para nos brindar pelo êxito da caminhada, eis que S. Pedro nos envia mais um intenso aguaceiro!
Pouco depois teve lugar o jantar, cujo prato principal era bacalhau assado no forno, uma especialidade da casa e famoso na região. Salienta-se o já habitual sentido de oportunidade da companheira Beatriz que num gesto simpático, enfeitou a mesa com velas e pequenos ramos de era colhidos durante o percurso. E Jorge Suarez, o amigo galego, apresentou-nos uma saborosa tarte, especialidade de Santiago de Compostela, local onde reside, bem como uma deliciosa aguardente. A boa disposição esteve sempre presente, potenciada pelo delicioso jantar e pelo ar puro que respirámos durante o dia.



Após a refeição teve lugar na sede da Associação local a apresentação em slide show e DVD das actividades do grupo ao longo do ano, tendo todos os presentes manifestado ao organizador o desejo imperioso de que continue o trabalho no próximo ano.


Texto: Manuel Augusto
Fotos. Jorge Ribeiro

5 Comments:

At 07:57:00, Anonymous Anónimo said...

Muito bom, Jorge! Aos poucos vai pondo a escrita em dia...Um abraço.
M.Augusto

 
At 08:35:00, Anonymous Anónimo said...

Os meus Parabéns!!!
Muito expressivo texto, acompanhado de excelentes fotografias, ilustrando mais um dia bem passado neste "Caminho" do GPM.
Elsa R.

 
At 10:05:00, Anonymous Anónimo said...

Parabéns, Jorge!

Deixar o testemunho de tudo o que foi feito é importante para que a história não fique perdida na memória de cada um!

Beijinho grande,
Carla

 
At 18:59:00, Anonymous Anónimo said...

Parabéns ao GPM e aos seus organizadores

Mais uma vez uma narrativa escrita muito cativante. Pena que o tempo não tenha ajudado os corajosos caminheiros. Haja esperança que o Sol venha a alegrar os passos dos próximos passeios e que a Natureza sorria para quem tanto a ama.
Alguém que, aqui de longe, gostaria também de poder tomar parte.

Mário Ribeiro

 
At 16:15:00, Anonymous Anónimo said...

Olá! Realizaram um percurso que passou por locais muito bonitos do Vale do Neiva.
Gostaria só de salientar que a Ponte das Tábuas não se localiza em Aguiar mas sim em Balugães.

Rita R.

 

Enviar um comentário

<< Home