Caminhos do Vale do Neiva
18 de Novembro de 2006
Realizou-se no passado Sábado, mais um percurso pedestre organizado pelo Grupo Portuense de Montanhismo, desta vez tendo como cenário o imponente vale do rio Neiva. A iniciativa estava enquadrada no encerramento das actividades de 2006 e, para além do percurso, estava previsto um jantar e a apresentação de slides e de um DVD resumindo o que durante o ano o Grupo levou a cabo. O ponto de encontro foi no Lugar de S. Roque, em Poiares – Ponte de Lima, um lugar onde convergem três concelhos: Viana, Barcelos e Ponte de Lima.
Desafiando as previsões de chuva, perto de vinte amantes da Natureza compareceram à chamada, no desejo de passar um dia diferente, percorrendo alguns trajectos que fazem parte dos três Caminhos de Santiago que cruzam o vale. Não faltou a presença de um representante Galego, o simpático Jorge Suarez, caminheiro e peregrino nos seus tempos livres.
Cerca das 10 horas iniciámos o percurso munidos da inevitável boa disposição. Pouco tempo decorreu até que a chuva impusesse a sua presença, sem no entanto abrandar a vontade que nos animava de continuar.
A primeira paragem foi na Igreja Matriz de Balugães, românica do sec. XII, como se lê numa inscrição na torre sineira. A chuva intensificou-se de tal modo que por momentos se pensou em dar por concluída a actividade. Abrigados na galilé construída na fachada principal (já no sec.XVII), aproveitamos para um ligeiro almoço a que não faltou o café e um bombom distribuído por uma companheira mais prevenida. Entretanto S. Pedro acabou por reconsiderar, permitindo-nos a continuação do percurso, deixando até que o Sol nos presenteasse por alguns momentos com o seu brilho e calor.
Chegados à Capela da Aparecida, apreciámos o panorama que dali se desfruta do extenso vale. Aqui teve lugar em 1702 a primeira aparição mariana de Portugal, aceite e aprovada pela Igreja Católica. Debaixo da capela construída sobre o penedo onde ocorreu o milagre que devolveu a fala ao pastor João Alves, o Mudo, existe um corredor muito baixo e estreito cavado no penedo e onde, segundo a crença, só passa quem estiver em graça. Os caminheiros, desafiados a passar pelo teste, demonstraram estar todos em graça, uma vez que todos conseguiram passar.
Em frente à Capela foi construído um grandioso templo (1707-1720) por iniciativa do arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles e graças ao produto das esmolas dos devotos e de um avultado legado do abade Francisco Teixeira Tinoco. Neste local foi tirada a fotografia de grupo.
O troço que se seguiu permitiu-nos concretizar a ideia de que, afinal, a sorte protege mesmo os audazes, pois a recompensa pelo facto de não termos receado as ameaças de mau tempo e termos aderido a esta iniciativa do GPM, estava ali, na encosta do Monte da Carmona: a contemplação da majestosa paisagem que o imenso vale do Neiva nos oferece! Nem as nuvens carregadas de cinzento ameaçador retiravam a beleza ao imponente vale.

Descendo a encosta, chegamos ao Mosteiro do Carvoeiro, templo beneditino fundado em data anterior à nacionalidade, mas reconstruído e ampliado no século XVIII. D. Luisa Monteiro, notável de Carvoeiro cedeu à freguesia este mosteiro.

Seguimos, então, através de um vinhedo, onde teve lugar a parte radical da caminhada, e que foi a travessia de um riacho. O nosso guia teve que arregaçar as mangas para ajudar o pessoal a dar o salto para a outra margem.

Encontrámo-nos então, conforme fora préviamente combinado, com o Dr. Tarcísio Maciel, arqueólogo e autêntico “Indiana Jones”, que nos presenteou com uma preciosa aula ao ar livre acerca dos vários povoados proto-históricos existentes nos montes circundantes.
Simpático e sabedor das coisas da terra, acompanhou-nos até à chamada Ponte Real e de seguida até à Ponte do Morgado, sobre um Neiva bastante caudaloso devido às intensas chuvadas.
Prosseguindo depois de passar pela Ponte Nova e através de um pinhal, a nossa persistência foi, uma vez mais posta à prova, já que um potente aguaceiro caiu sobre nós, ao mesmo tempo que a água depositada nos caminhos nos obrigava a autênticos exercícios de corta-mato.
Chegamos então à Ponte das Tábuas, em Aguiar, onde se aproveitou para mais uma fotografia de grupo, tendo como fundo os seus arcos ancestrais. Autêntica obra de engenharia, a ponte das Tábuas é um dos monumentos mais importantes do Caminho Português.

Erigida no sec. XVI com grandes lajes de granito, substituiu uma outra, de tábuas, já referida no sec. XII. O italiano Canfalonieri, em peregrinação a S. Tiago de Compostela em 1594, refere-se a esta ponte como sendo de pedra. Na margem direita, do lado jusante, observa-se em duas pedras do pavimento, uma cruz gravada.
Pouco depois teve lugar o jantar, cujo prato principal era bacalhau assado no forno, uma especialidade da casa e famoso na região. Salienta-se o já habitual sentido de oportunidade da companheira Beatriz que num gesto simpático, enfeitou a mesa com velas e pequenos ramos de era colhidos durante o percurso. E Jorge Suarez, o amigo galego, apresentou-nos uma saborosa tarte, especialidade de Santiago de Compostela, local onde reside, bem como uma deliciosa aguardente. A boa disposição esteve sempre presente, potenciada pelo delicioso jantar e pelo ar puro que respirámos durante o dia.

Texto: Manuel Augusto
Fotos. Jorge Ribeiro
5 Comments:
Muito bom, Jorge! Aos poucos vai pondo a escrita em dia...Um abraço.
M.Augusto
Os meus Parabéns!!!
Muito expressivo texto, acompanhado de excelentes fotografias, ilustrando mais um dia bem passado neste "Caminho" do GPM.
Elsa R.
Parabéns, Jorge!
Deixar o testemunho de tudo o que foi feito é importante para que a história não fique perdida na memória de cada um!
Beijinho grande,
Carla
Parabéns ao GPM e aos seus organizadores
Mais uma vez uma narrativa escrita muito cativante. Pena que o tempo não tenha ajudado os corajosos caminheiros. Haja esperança que o Sol venha a alegrar os passos dos próximos passeios e que a Natureza sorria para quem tanto a ama.
Alguém que, aqui de longe, gostaria também de poder tomar parte.
Mário Ribeiro
Olá! Realizaram um percurso que passou por locais muito bonitos do Vale do Neiva.
Gostaria só de salientar que a Ponte das Tábuas não se localiza em Aguiar mas sim em Balugães.
Rita R.
Enviar um comentário
<< Home