quinta-feira, maio 24, 2007

Cerco do Porto - Parte I

CERCO DO PORTO I
1832 - 1833

PERCURSO PELA LINHA DE DEFESA LIBERAL NORTE


21 de Outubro, 2006


“Após a morte de D. João VI (6 de Março de 1826) sem deixar explicita a questão da sucessão, após incidentes históricos vários, estala a guerra fraticida entre dois blocos: Absolutista e Liberal. O primeiro, defensor do poder absoluto real, era encabeçado pelo infante D.Miguel apoiado por sua mãe D. Carlota Joaquina, por toda a Nobreza em geral e por todo o Clero. O bloco Liberal era encabeçado pelo herdeiro do trono D. Pedro I, Imperador do Brasil (e futuro D. Pedro IV de Portugal).”

“A 8 de Julho de 1832, D. Pedro desembarca em Pampelido, para tomar a cidade do Porto. A população simpatiza com os Liberais. Os confrontos entre Absolutistas e Liberais duraram cerca de um ano, deixando a cidade completamente arruinada. Foram tempos de horror e carnificina. A peste, a fome e a guerra provocam horríveis destroços nos habitantes do Porto. O cerco termina com a vitória dos Liberais e a aclamação de D. Maria II como Rainha de Portugal.”
“Esta resistência justificaria para todo o sempre na memória colectiva dos portuenses e nos portugueses em geral a atribuição da expressiva legenda “Cidade Invicta”.

Foi neste contexto histórico que o Grupo Portuense de Montanhismo - GPM propôs a realização de mais um percurso pedestre citadino de qualidade, e ao qual aderiram cerca de três dezenas de caminheiros, indiferentes ao tempo cinzento e chuvoso que se adivinhava para aquele Sábado, 21 de Outubro de 2006.
A concentração teve lugar no Jardim do Passeio Alegre, junto ao Castelo da Foz, e após as formalidades da inscrição seguimos para o ponto de início do percurso, no Infante, junto ao Mosteiro de S. Francisco.

Seguimos então pela avenida junto ao Douro, passando pelas várias pontes emblemáticas desta bela cidade, parando a breves trechos para assinalar o local das baterias de onde os bombardeamentos semeavam a destruição e a morte.
Depois de subirmos a Calçada do Rego do Lameiro, a fazer lembrar qualquer percurso de montanha, chegamos ofegantes a um dos locais mais afamados da história do Cerco, onde a 29 de Setembro de 1832, dia de S. Miguel, se deu um dos confrontos mais sangrentos. Foi dado à rua onde o cenário aconteceu, o nome de Rua do Heroísmo.

Bateria da China, Bateria das Oliveiras, Forte de Campanhã, Bateria do Bomfim... locais cheios de história que fomos percorrendo imaginando o troar dos canhões, as vozes de comando e os gritos de terror! Chegados à Igreja do Bonfim, nas imediações do local da Bateria com o mesmo nome, foi tirada a inevitável fotografia do grupo, um grupo onde a boa disposição e a vontade de conhecer os pormenores da história imperou ao longo de todo o percurso.

Chegados à Bateria da Aguardente, onde hoje está implantada a Praça do Marquês de Pombal, o grupo dispersou-se para um breve e merecido almoço, após o qual continuámos a marcha pelas movimentadas ruas da Invicta.

Em direcção ao reduto do Covelo, abandonamos a linha de defesa liberal e atravessando a “terra de ninguém” chega-se á já então chamada Quinta do Covelo, ai deliciamo-nos com a frescura do local densamente arborizado, um espaço verde precioso entre o cimento que impera na cidade.

Bateria de S. Brás, Bateria de D. Maria, Bateria de D. Pedro... passo a passo percorremos a história. Ainda na Freguesia de Paranhos, foi referido o Reduto das Medalhas, local de grandes confrontos e cenário da atribuição de inúmeras medalhas por D. Pedro por feitos heróicos, razão do nome porque ficou conhecido.


Estivemos no Carvalhido que foi o local de entrada do exército liberal e,fazendo um pequeno desvio, passamos junto à majestosa entrada da Quinta da Prelada, não deixando de sentir uma certa revolta pelo estado degradado do local.


O movimento citadino adensava-se, à medida que nos aproximávamos das imediações da Foz. Mas o nosso espírito concentrava-se nas explicações que eram dadas acerca da movimentação das tropas Absolutistas e Liberais, aqui e ali destacado um ou outro pormenor pela sua importância ou pela curiosidade do facto, como a leitura de breves trechos do relato de um oficial do Real Corpo de Engenheiros, Capitão Costa, (o caso dos machados e das enxadas que foram fornecidas sem cabos, da utilização dos bancos da Igreja de Lordelo para as barricadas...).


Chegados às traseiras da Quinta de Serralves, foi-nos referido que, na altura a mesma tinha o nome de Vale do Mata-Sete, sabe-se lá porquê! Aqui era o local do reduto da Flecha dos Mortos, onde ficou imortalizado José Estêvão, personalidade multifacetada de soldado, orador parlamentar, político, jornalista, professor e advogado ...



“Vejo-o na Flecha dos Mortos, nesse terrível reduto, cujo nome só por si é um pregão de heroísmo, vejo-o impávido e audaz, entre os seus vinte soldados, caídos a seu lado, mortos ou feridos, esperar de morrão aceso, ao pé da sua peça, a esposa heróica do artilheiro nessas núpcias de morte e de glória, que são as batalhas! - esperar ao pé dela a entrada dos inimigos na bateria, que já não podia defender, queimar com o morrão, num gesto violento e provocador as barbas do comandante da força, e retirar sob um chuveiro de balas para logo voltar com reforços e reaver, à arma branca, numa carga furiosa, a posição um momento perdida!” (do Discurso de Luís de Magalhães em Aveiro, por ocasião do Centenário de José Estêvão a 26 de Dezembro de 1909).





Atravessámos o Parque da Pasteleira, onde se situava anteriormente o reduto do mesmo nome, apreciando o belo local cheio de verde. Aqui foi-nos dado observar a particularidade de um fontanário que, engenhosamente, servia cães, cavalos e humanos.




E foi neste contexto bélico e de extrema relevância histórica, que se desenrolou mais um percurso pedestre de elevada qualidade, pela impecável organização, pelo extremo cuidado na preparação do contexto histórico e pelo espírito com que os participantes colaboraram, indiferentes aos ameaços de chuva, ao movimento citadino intenso.

Ficámos todos de parabéns!


Texto: Manuel Augusto
Fotos: Jorge Ribeiro

1 Comments:

At 13:04:00, Anonymous Anónimo said...

"Marechal" Jorge Ribeiro:

Parabéns pela publicação da marcha no Porto acerca do " O Cerco do Porto 1832-1833". Faz hoje(23 de Julho) precisamente 39 anos que nasci nesta nobre, leal e invicta cidade do Porto que nasci, mas nesse dia de Outubro de 2006 fiquei a conhercer mais um pouco da história dos locais desta urbe!

Isabel Ferreira

 

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