domingo, maio 20, 2007

Percurso em Bracara Augusta

Bracara Augusta - Viagem pela História


13 de Maio de 2006

Em boa hora o Grupo Portuense de Montanhismo, incluiu este tema no seu calendário para 2006. A cidade de Braga, carrega história ao longo da sua existência, e a sua localização, numa zona de transição entre montanhas e vales, permitiu ao pequeno e acanhado burgo medieval, que se desenvolveu em torno da Sé, manter parte da traça romana, o suficiente para nos recordar a história velha da cidade.

Juntou-se o interesse cultural, a monumentalidade, o sentido lúdico, e o espírito de convivência, que fazem da marcha um desporto adequado a todas as idades, com uma temática demasiado sugestiva, para quem gosta de caminhar pela história.
Não se prevendo mau tempo, único argumento válido para um caminheiro ficar em casa, a resposta a este convite foi significativa, constituindo-se um grupo alegre e comunicativo, liderados pelo comandante Ribeiro, que se revelou um exímio conhecedor.
O itinerário, em circuito fechado, percorreu a Bracara Augusta, passou pelo burgo medieval, ligou as vias romanas XVIII e XVII, atravessou o barroco, viajou pela cidade actual e terminou com um animado convívio.

Cumpridas as formalidades habituais, o grupo embrenha-se na cidade romana e sobe até ao Alto da Cividade. Observa com curiosidade o que resta de um grande edifício público com balneário, e que se manteve em funções entre os séculos I e V. No local, conservam-se diversos miliários, que pertenceram às vias romanas, que irradiavam da cidade. Continuando a senda, o destino é a Insula do Alto das Carvalheiras. Segue-se o local do forum, onde se cruzam os apressados bracarenses, com o grupo, que em ritmo de passeio, se preocupa em absorver a história local. Num pulo, atravessamos o cruzamento das ruas que ligavam ao fórum para entrarmos na cidade medieval.



A porta de Santiago mesmo junto à igreja, é o próximo local a visitar, onde os limites da cidade romana coincidem com a medieval, e em cujo largo pavimentado, se sinalizam as fundações de uma Insula romana. Segue-se a Sé, ex-libris e paradigma da história da cidade, atravessando os tempos, desde a sua sagração em 1093, mistura de todos os estilos, desde o românico ao gótico e deste ao barroco. Avançamos para o largo do Paço com os seus quatro edifícios e chafariz, e caminhando pela rua do Souto, vamos até uma Domus nas Frigideiras do Cantinho . Aqui, localiza-se um magnífico e moderno café, construído sobre uma edificação romana, que foi preservada, fazendo parte do piso daquele estabelecimento. Faz-se uma pausa, para homenagear o proprietário, pelo cuidado e interesse posto na preservação do local, e acrescentamos nós, para agradecer a amabilidade e paciência com que recebeu o grupo.


Partimos então, à descoberta da rica moradia quinhentista dos Coimbras, do barroco maneirista da igreja de Stª. Cruz, e lentamente abandonamos a cidade, entrando no traçado da via XVIII, hoje substituído pela malha urbana. Sem nos apercebermos, caminhamos silenciosamente desde a rua dos Chãos, passamos junto à igreja de S. Vicente e ao cemitério actual, onde se localizava a milha I, interiorizando quem sabe, uma singela homenagem aos construtores da Bracara Augusta. Continuamos até à portela, onde está a capela das Sete Fontes. Progredindo um pouco mais, aparece a robusta calçada romana, símbolo da resistência ao avanço urbanístico, que termina perto de Adaúfe. Como estamos sensivelmente a meio do percurso e a fome aperta, foi dado ordem para almoçar, aliás, muito bem recebida, e de imediato, aproveitada para reconforto do estômago. O parque, junto à igreja recomenda-se, pois tem sombra, água e uma bela vista para o vale do Cávado e serra da Abadia.


O regresso faz-se rodeando o cabeço do Pedroso, subindo gradualmente pelos caminhos rurais até Gualtar. Daqui, explorando trilhos e caminhos, fomos observar as – Sete Fontes - extraordinária obra de engenharia hidráulica do séc. XVIII, que abasteceu a cidade de Braga com água de excelente qualidade até ao início do séc. XX. Muito têm de agradecer os bracarenses a D. José de Bragança.
A partir da primeira mina, de arquitectura singular, com base no granito da região, o grupo alonga-se, caminhando umas vezes entre campos de cultivo e vinha de enforcada, e outras por caminho rural e pequenos trilhos, que correm sob a copa das carvalheiras. Depois de avaliados todos os detalhes e discutidas algumas técnicas de construção, louvam-se os antigos pela herança legada.



Para o regresso, utiliza-se o traçado da Via Prima – que ligava Bracara Augusta a Asturica Augusta por Chaves, recordada em pequenas colunas de bronze, e fomos visitar a Fonte do Idolo, único santuário rupestre da época romana. O percurso está quase no fim, o cansaço começa a dar os primeiros sinais, pelo que nos apressamos em seguir directos para as Frigideiras do Cantinho a casa mais antiga de Braga fundada em 1796 onde, num saudável convívio, e entre dois dedos de conversa, fomos apreciando as famosas frigideiras e ficando a conhecer saborosos detalhes da próxima marcha.


Texto: Fernando Fontinha
Fotos: Jorge Ribeiro