segunda-feira, julho 30, 2007

Percurso do Exército Liberal

Percurso do Exército Liberal



Praia da Memória – Pedras Rubras - Porto

No dia 8 de Julho 2007, teve lugar mais uma actividade do GPM, desta feita para celebrar o 175º aniversário do desembarque do ‘exército libertador’ de D. Pedro IV. Uma actividade de cariz histórico, recriando um dos episódios mais importantes da cidade do Porto e que alteraria radicalmente o cenário político de todo o país.




O percurso teve como ponto de partida a praia da memória, mais precisamente o obelisco comemorativo do famoso desembarque, rumando de seguida em direcção às matas de onde o desembarque terá sido vigiado por tropas leais a D. Miguel.


Continuamos em direcção ao Largo de Pedras Rubras, onde terão acampado as tropas liberais, tendo aí lugar uma breve paragem com o intuito de relembrar a noite que os soldados aí passaram, tendo sido também relatada a famosa lenda dos três F’s. (@)


(@) http://paginas.fe.up.pt/porto-ol/is/lavraliberal.html



Continuámos o nosso percurso, tendo passado na casa do Lavrador Maiato Manoel José D’Andrade, onde terá pernoitado D. Pedro IV, e tendo dado nessa mesma residência o primeiro beija-mão do monarca.



Durante parte do nosso percurso, seguimos pela Via Veteris (Estrada Velha), estrada provavelmente de origem romana. Iniciava-se junto ao Rio Douro, na zona da Arrábida e, vindo pelo Couto entre Lordelo e Cedofeita, passava pelo Cruzeiro de Santiago de Custóias, atravessava o rio Leça neste local e daí dirigia-se por Pedras Rubras, Aveleda, Modivas e Vairão para o estuário do rio Ave.





Em Custóias, e ainda enquanto percorríamos a Via Veteris, atravessamos a ponte de D. Goimil, ponte de cavalete com um arco ogival, construída em alvenaria de granito irregular, apresentando uma tipologia construtiva característica da Idade Média (sécs. XIII – XIV).





Mais alguns quilómetros, e fomos encontrar no Largo de Custóias uma reconstituição de uma feira medieval, alusiva ao período em causa, onde, entre outros motivos de interesse, foi possível compreender melhor as armas e as tácticas de combate, utilizadas na guerra civil portuguesa.



Chegados ao Carvalhido, passamos na Praça do Exército Libertador (mais uma alusão ao episódio histórico), tendo o grupo depois seguido pela Rua 9 de Julho (data em que o exército de D. Pedro IV entrou na cidade do Porto).



Na rua de Cedofeita pudemos ver o edifício onde terão sido tomadas decisões que com certeza influenciaram o futuro do país, ou seja, o local onde funcionou o Estado-Maior da força liderada por D. Pedro.


Finalmente na Praça da Liberdade, na época chamada Praça Nova, os bravos do século XXI deram por terminada a reconstituição do percurso de cerca de 20 Kms, junto à estátua equestre de D. Pedro IV.


Texto: Antoni Pereira e Carla Leite
Fotos: Jorge Ribeiro

sexta-feira, julho 20, 2007

Retirada do Marechal Soult III

PERCURSO HISTÓRICO

Retirada do Marechal Soult . Parte III

Entre Paradela e Cambeses do Rio.



Seguindo na esteira do exército do marechal Soult, o Grupo Portuense de Montanhismo – GPM, levou-nos a conhecer a magia agreste das terras morenas do Barroso.
Quase dois séculos passados, o mesmo caminho, é agora percorrido por um exército de caminheiros à procura da memória daqueles dias de Maio de 1809, carregando entusiasmo e em paz com a natureza.



Sabemos que o ano de 1809 foi particularmente chuvoso, dificultando a marcha dos fugitivos e das tropas do general Silveira que seguiam na sua perseguição.
Recorde-se que, tendo este, cortado a retirada pela estrada de Chaves, obrigou Soult a seguir o difícil e antigo caminho para Montalegre, por apertadas veredas.
Confessamos que estávamos ansiosos por conhecer o rumo que o marechal teria seguido, continuando pela antiga estrada para Montalegre ou optando pelo caminho velho na direcção de Pitões. As dúvidas ficaram desfeitas, a partir de Paradela do Rio, uma vez que o comandante das nossas hostes tomou a direcção da raia seca do Larouco.




Seguindo a primeira das opções, fomos à procura das aldeias barrosãs, com o típico casario aconchegado no fundo dos vales, pela solidariedade que resulta do seu comunitarismo, e abrigado do impiedoso clima.
O que se terá passado na madrugada de 17 de Maio ninguém o sabe. Soult abandona a Paradela, e marcha com uma divisão de Dragões pela linha da cumeada que separa o Cávado do Rabagão, seguindo o resto do exército pela velha estrada na direcção de Montalegre. Por onde passaram foram queimando e saqueando o pouco que ficou, num terreno parco de recursos.



As povoações fugiram para a serra, levando o que puderam, pondo o gado a salvo, destruindo pontes, e posteriormente, perseguindo e atacando os mais atrasados, não lhes poupando a vida, tal era o ódio que tinham ao invasor.



Tomando o mesmo rumo, utilizamos o itinerário seguido pelo exército em fuga, fazendo uma paragem em Fiães do Rio, junto à casa onde nasceu Bento António Gonçalves. Com o futuro traçado para tratar dos lameiros e do gado, abandonou o torrão natal, aos 13 anos por morte de sua mãe. Partiu para Lisboa, tendo sido mais tarde secretário geral do PCP, e teve encontro com a morte no Tarrafal, com 40 anos de idade.


As mesmas aldeias, em tempo de paz, estão hoje desertas, onde apenas resistem os idosos, sem forças para poderem partir à procura de melhor futuro. Estão hoje tão desertas e abandonadas como dois séculos atrás, quando os seus habitantes fugiram para a serra, escapando à barbárie da soldadesca de Soult.



Que país é este, que obriga os seus filhos a procurar bem longe o pão do dia a dia? Quando chegamos a S. Pedro os nossos hábitos citadinos levaram-nos à procura da indispensável bica. Foi ali, num pequenino mas acolhedor café que a companheira Olinda nos leu de forma exemplar, um texto de Miguel Torga, patrono dos montanhistas que amam a natureza no seu estado puro.



Com as baterias carregadas e respirando o mais puro ar do planalto barrosão, abandonamos por pouco tempo o histórico caminho, devido ao espelho de água da barragem do Alto Cávado, fazendo a travessia pela ponte dos galegos.




Após algumas tentativas, os satélites no céu e o gps na terra, conduziram-nos à reconstituição do traçado que em certos locais desapareceu completamente e com algumas hesitações é certo, até Cambezes do Rio, através da planáltica lombada deste território barrosão, com a serra do Larouco a testemunhar a nossa caminhada.



Por este mesmo caminho arrastou-se o esfarrapado exército do marechal, rendido à capacidade de sofrimento e argúcia da gente simples, humilde e corajosa do norte do país, que se juntou ao general Silveira.


Texto: Fernando Fontinha

Fotos: Jorge Ribeiro