quinta-feira, maio 24, 2007

Rota dos 999 Arcos

Rota dos 999 Arcos

17 de Março de 2007

Numa organização do GPM - Grupo Portuense de Montanhismo, realizou-se no passado Sábado, uma actividade pedestre deveras aliciante, caracterizada por duas componentes de inegável interesse histórico, cultural e desportivo: a visita em pormenor, à importante estação arqueológica da Cividade de Terroso e um percurso ao longo do espectacular Aqueduto do Real Mosteiro de Santa Clara de Vila do Conde.

Compareceram ao desafio proposto pela organização meia centena de pedestrianistas, munidos da inevitável boa disposição e desejosos de desfrutar o belo dia de Primavera que se fez sentir.Após a rotina do secretariado, deu-se início à marcha em direcção ao Monte da Cividade de Terroso. Com os seus 153 metros de altitude, alberga uma das mais importantes estações arqueológicas da Idade do Ferro do Noroeste Peninsular.


À nossa espera, no Núcleo interpretativo, estava o Dr. José Manuel Flores do Gabinete Municipal de Arqueologia da Póvoa de Varzim, que em breves palavras deu aos participantes o enquadramento histórico do local, antes de partirmos para o terreno rico em construções circulares, vestígios da cultura castreja.

O início da ocupação da Cividade remonta aos finais da Idade do Bronze, cerca de 1000 a 800 anos a.C., e prolongou-se até à Romanização. Situada no coração da região castreja, a Cividade prosperou devido ao facto de estar fortemente amuralhada e pela sua localização próxima ao mar, o que possibilitava o comércio com as civilizações do mar Mediterrâneo.


Esta prosperidade não escapou à atenção dos Romanos que, após o assassinato de Viriato, líder das hostes lusitanas, deram início à última fase urbana do castro.No local foi tirada a fotografia de grupo, tendo como pano de fundo, ao longe e envolta numa ténue neblina, a cidade da Póvoa de Varzim.



Descendo o monte, dirigimo-nos então para Vila do Conde, ao encontro dos arcos do aqueduto que, tempos atrás, levara as límpidas águas desde Terroso até ao Mosteiro de Santa Clara. O aqueduto começou a ser construido em 19 de Dezembro de 1705 sob a responsabilidade de três irmãs abadessas e com o apoio de um irmão, Governador de Armas da província do Minho e consta que a água finalmente caiu na grande taça do chafariz no claustro do Mosteiro em 20 de Outubro de 1714.



Ao longo do percurso, os arcos iam crescendo em altura, alguns cobertos pela folhagem de poderosas trepadeiras, outros em deplorável estado de conservação. Este no entanto, melhorava consideravelmente nas proximidades do Mosteiro de Santa Clara.


Chegados ao Mosteiro, e após reconfortarmos o estômago com uma ligeira refeição, juntou-se ao grupo o Dr. Pedro Almeida que iria ser o nosso guia do património edificado e cultural da cidade de Vila do Conde.


Terra onde nasceram ou viveram ilustres artistas e homens de letras, como Antero de Quental, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Guerra Junqueiro, José Régio, Joaquim Pacheco Neves, entre outros, Vila do Conde possui um património histórico bastante rico.



E foi em busca de algum desse espólio que percorremos a cidade, de mochila às costas, máquinas fotográficas disparando em todos os sentidos. Chegados à praia, percorremos a agradável e movimentada marginal até ao Forte de São João Baptista, visitámos a Capela da Nossa Senhora da Guia, e ao longo da margem do rio Ave, dirigimo-nos novamente ao Mosteiro de Santa Clara, local de fim do percurso.


Antes porém, aconteceu um dos momentos mais tocantes deste inesquecível dia: na escadaria junto à casa de José Régio, era imperiosa uma homenagem ao poeta escritor. Então, a caminheira Laura Pires, professora de Educação Física, revelando inegáveis dotes de declamadora ofereceu-nos um “Cântico Negro” (@) em tal crescendo de emotividade que decerto terá agradado àquele que nasceu “do amor que há entre Deus e o Diabo”.

(@) http://www.astormentas.com/regio.htm


A todos os participantes agradou, sem dúvida alguma, e culminou este inesquecível dia em que, mais uma vez sob o lema Caminhar e Conhecer, calmamente viajámos no tempo!

Texto: Manuel Augusto
Fotos: Jorge Ribeiro