quinta-feira, maio 24, 2007

Santa Maria de Campanhã


Caminhar e Conhecer as Freguesias da Cidade Invicta

SANTA MARIA DE CAMPANHÃ


Assinalando o arranque das suas actividades para o corrente ano, o GPM com o seu habitual lema Caminhar e Conhecer, propôs-nos para Sábado, dia 10 de Fevereiro 2007, um percurso citadino através da freguesia de Campanhã, no Porto. No extremo oriental do concelho, Campanhã é uma das maiores freguesias da Invicta.
O ponto de encontro foi na Praça Francisco Sá Carneiro, junto ao café Velasquez. O dia adivinhava-se fresco e ensolarado, magnífico para a actividade. Após as boas-vindas aos
participantes e esgotadas as rotinas do secretariado, deu-se início ao percurso.


O primeiro ponto de interesse foi a imponência do Estádio do Dragão, sem dúvida uma bela obra, da autoria do arquitecto Manuel Salgado. Construído para substituir o velhinho estádio das Antas, foi inaugurado em 16 de Novembro de 2003 num jogo particular com o FC Barcelona e tem uma capacidade para 52.000 espectadores sentados.


Continuando o percurso, entramos na quinta da Lameira, hoje denominada Parque de S. Roque, uma enorme mancha verde na cidade, com belos jardins, uma fresca e frondosa mata, relvados, enfim um autêntico “pulmão”. Percorremos calmamente o trilho sinuoso, passando pelas duas graciosas pontes sobre o lago, descendo até ao labirinto de buxo onde alguns dos participantes se divertiram a descobrir a saída. Já na rua de S. Roque da Lameira, admirámos a fachada frontal da casa apalaçada.


Atravessamos a VCI e, passando ao largo do Parque da Corujeira, seguimos em direcção à Quinta da Bonjóia, uma extensa propriedade com cerca de 38.000 m2. Nela foi edificado em 1758 um grandioso palácio, cujo projecto é atribuído, sem confirmação, ao arquitecto italiano Nicolau Nasoni. Disfruta-se daqui um vasto panorama do vale do Douro. E foi com o palácio a servir de pano de fundo que tirámos a inevitável fotografia de grupo.



Prosseguimos a agradável caminhada, visitando a Igreja Matriz de Santa Maria de Campanhã. Terá sido edificada em 1714 e, conforme constatámos, o seu interior e especialmente o tecto, necessitam de urgentes obras de restauro. Foi saqueada no decurso da segunda invasão francesa (Março de 1809) e sofreu numerosos danos durante o cerco do Porto (1832-33).



Aqui admirámos a célebre imagem de Nossa Senhora de Campanhã, padroeira da freguesia, cuja fama advém das numerosas lendas e milagres a que está associada, alguns dos quais remontando aos séculos IX e X. Trata-se de uma imagem esculpida em calcário (pedra de ançã), estofada e policromada, de influência francesa e atribuída ao século XIV. É considerada uma das mais belas imagens da Virgem existentes na Diocese do Porto.



No seguimento, enveredámos por um caminho rústico, a lembrar um trilho de montanha, até encontrarmos a entrada da Quinta da Revolta. A designação desta quinta, deve-se, segundo se julga, à sua disposição: na planta da zona onde se situa é visível a existência de uma curva pronunciada (volta) e uma contra curva (re - volta). Actualmente a quinta é mais conhecida por Horto do Freixo, e nela estão instalados um importante centro de jardinagem e viveiros.



Dirigimo-nos em seguida para a margem do Douro, passando junto do Museu da Imprensa, para nos determos na admiração daquela que foi considerada a obra prima de Nicolau Nasoni, o Palácio do Freixo. Construído no interior da Quinta do Freixo por volta de 1742, constitui o conjunto monumental mais notável da freguesia de Campanhã e um dos mais belos exemplares do “barroco” civil português. As últimas obras de restauro foram da responsabilidade do arquitecto Fernando Távora, falecido recentemente.



Em seguida tivemos a oportunidade de visitar os jardins da Quinta de Vilar d’Allen, onde a simpática anfitriã Isaura Allen orgulhosamente nos deu a conhecer a grande variedade de camélias que granjearam fama e obtiveram diversos prémios em concursos realizados no Porto. Na quinta encontram-se também as mais espectaculares palmeiras do Norte.Após termos reconfortado o estômago com uma ligeira refeição, continuámos a marcha por ruelas e caminhos, com as condições atmosféricas a mudarem, prometendo chuva a qualquer momento.



Atravessámos o poluído Rio Tinto, e ladeando o tristemente célebre bairro do Cerco do Porto, acabámos por alcançar a quinta Santo António de Contumil, cujas portas nos foram simpáticamente franqueadas pela proprietária, afim de termos o privilégio de admirar um antigo banco de pedra no qual foi gravada uma inscrição datada do século XVII. “XI - V - MDC LUGAR CHEIO DE SAUDADE !....VISTE_ME CRIANÇA SIMPLES….“; assinado: “LSA”.



É interessante assinalar que as letras S foram gravadas ao contrário…erro ?ou assim se escrevia antigamente? A cabeceira do banco, também em pedra, é um monumento de 1833 dedicado à vitória Liberal na luta fraticida que opôs Absolutistas e Liberais. Pode ler-se na placa fixada na pedra: “1833 – Nessa lucta fraticida que ensanguentou a Nação triumphou a liberdade esmagando a reacção”.



No exterior da quinta, existe uma capela considerada uma jóia de arquitectura rural que é a Capela de Santo António de Contumil, na rua do mesmo nome e cuja propriedade é particular.

Foi construída - segundo a inscrição sobre a porta – por «António de Carvalho Cidadão da cidade do Porto para si e seus herdeiros» no ano do Senhor de 1634.


Já com a chuva a querer marcar presença, acabámos por chegar ao final do percurso, no mesmo local de onde partimos horas antes, com o GPS a marcar cerca de 18 km. Nas despedidas ficou a certeza de novo encontro para breve, em mais uma actividade que alia o prazer de Caminhar ao gosto por Conhecer terras, lugares e gentes deste nosso País.

Texto : Manuel Augusto
Fotos : Jorge Ribeiro